Sony K790ES - deck de cassetes audio

[SerraCabo]

Olá a todos.

Entre os fabricantes japoneses, aquele com que sempre mais antipatizei foi a Sony. daqui a pouco explico porquê.

Entretanto, herdei um deck de cassetes (tipo Philips) Sony K790ES dos anos 90. Trata-se de um deck de 3 cabeças, duplo cabrestante e “quartz locked direct drive”. Enfim, anuncia o suco da barbatana.

Estes aparelhos com direct drive são muito interessantes porque as correias são um eterno problema. Tenho ali um monte de tralha à espera que eu tenha paciência para encontrar correias para eles. Alguns podem levar correias a poliuretano (redondas) que eu soldo artesanalmente. Mas uma boa parte deles tem correias espalmadas e não há poliuretano que valha.



A primeira coisa de que desconfiei foi 3 cabeças com dual capstan? 3 cabeças é um luxo (erase/record/playback) mas isto implica que ele trabalhe só para um lado ... para que serve o duplo cabestante? Pois, não sei. Só trabalha para um lado e depois, tira-se a cassete vira-se e recoloca-se.



Bom, liguei-o, cliquei no eject, ouvi um motor e ... nada. Pensei que a gaveta pudesse estar presa por ter estado parada. Escarafuncho daqui e dalí, e não está colada. Abro a máquina e ... a mecânica era quase do tamanho de um melão.



Mais abaixo falo da avaria, mas a primeira coisa com que deparo é um correia larga (felizmente em bom estado) ligando o primeiro ao segundo cabrestante. É direct drive no cabrestante que fica no fim do percurso, mas no outro não é.

Esta coisa do duplo cabrestante não sei se acaba por ser vantajoso. Pretende-se isolar a dinâmica (mecânica) da tensão provocada pelo ‘hub’ que desenrola para manter estabilizada a tensão da fita mas parece-me que, feitas as contas, é mais para dizerem que tem dois cabrestantes!

Entretanto, descubro mais uma uma correia ou ... mais propriamente o que dela resta. Depois conto.

Porque não gosto eu da Sony? Pois. Electronicamente é em geral tão bom quanto as outras marcas conceituadas japonesas. O problema é mecanicamente. É como comparar um motor desenvolvido pela NASA com um da SpaceX. O da NASA tem 50x mais componentes. A Sony é o mesmo.



Um gajo abre um aparelho japonês não Sony e tem as peças (mecânica) que precisa para trabalhar. Abre-se algo Sony e é um pesadelo de molas, actuadores, rodas dentadas, alavancas ... A coisa não está mal fabricada. Cada peça em si tem qualidade mas são camadas e camadas de peças. Eu não tenho problema com esta complicação, aliás, safei-me bem múltiplas vezes por me entender bem com ela. Mas porquê tanta tralha para fazer exactamente o mesmo?

Bem diz o Musk. O melhor componente é o que não está lá.

[SerraCabo]

Como eu dizia, o gajo não abre a portinhola da cassete. A Sony nunca fez coisas simples e a portinhola abre a motor.

Abro a coisa e topo que está um pedaço de correia agarrado a um 'polie' (roldana). Para ver melhor tenho que desmontar tudo até ao tutano.



Meia hora, 500 parafusos e muita fotografia, e chego ao motor e respectiva polie. Toco-lhe com o dedo e ... a correia tinha-se transformado em alcatrão. Agarrou-se-me aos dedos, ainda não consegui lavar bem. Fez-me lembrar a nafta que nos anos 60 empestava as praias (lavagem, de tanques dos petroleiros). Um gajo pisava a nafta e só a conseguia tirar dos pés esfregando com petróleo.



Já não bastava a coisa estar naquele estado porque tinha que haver uma complicação acrescida (Sony, pois claro).


A polie tinha um sulco ao centro, com não mais de 0.2mm, cheio de alcatrão e eu precisava limpar. Só consegui com papel embebido em alcool e enrolado na lâmica de uma vavalha.isopropílico.

Falta agora encontrar um correia parecida. É curta, mas só conseguir tirar-lhe as medidas é outra telenovela. Devo ter um franco com umas quantas correias. O poliuretano não dá para ali porque é muito pouco elástico e dado a patinar.

[dropes]

Obrigado desde já pela partilha

As correias são como os elásticos, apanhando húmidade ficam numa gosma difícil de se limpar.
Tiveste a paciência de desmontar um deck, há correias que são difícil de aceder sem desmontar, a quantidade de parafusos, todos diferentes, não é para qualquer um.

Há parte, ainda se encontram hoje aparelhos com uma proteção preta, tipo borracha, mas com o tempo...
Máquinas fotográficas, comandos, colunas Bluetooth, teclados; não sei o motivo nem porque continuam a insistir nessa porcaria.
Não sai com DW40, nem álcool, nem ácido clorídrico, nem soda caustica... não experimentei com decapante. Um fósforo deve dar melhores resultados 

Gosto de ver alguém que ainda sabe dar valor aos equipamentos antigos, nice 

[SerraCabo]

De facto começo a desconfiar que se fazem coisas com os dias previamente contados. Não deve haver muita gente com pachorra para reparar estas coisas.

Tento encontrado uma correia no meu stock que vem do tempo de Tutankamon (sem se desfazerem), comecei a montar a coisa. Quase no fim topo que sobre uma peça, uma espécie de desandador que não recordo ter retirado. Vou ver as fotos e nada. Não está em foto alguma. Desmontei e tive que partir pedra: onde será que a peça faz falta?

Às tantas descobri. A peça encaixava num mecanismo mas ficava apenas presa pela massa consistente de lubrificação. Com as voltas que dei à coisa ela soltou-se, ficou no tampo da bancada e só ‘apareceu’ no fim.

Toca a desmontar e a remontar e ficou tudo bem. Está a funcionar às mil maravilhas.



Reparem no mecanismo. A peça que se soltou é a do lado direito e a polie à esquerda é uma nas quais trabalha a correia. E, pergunto eu, tendo todas aquelas rodas dentadas, por que deixaram uma correia?









Logo depois fui ligar um player de CD Sony igualmente, que me deram. Tinha uma etiqueta de reparação e ... cheirou-me a esturro. Testei e o gajo cuspia o disco. às tantas aceita o disco mas funcionava em disco falhado, não avançava na música.

Para abrir este bastava retirar dois parafusos. Coloquei um pingo de Kontact 61 no veio do laser, rodei com o dedo uma rodinha para o fazer avançar e recuar, e fechei o aparelho. Ficou a funcionar, pelo menos por enquanto.

[dropes]

Já me diziam, reparar aparelhagens não se tem lucro, apenas ajuda na publicidade da casa ao referir, TVs Videos e Hi-Fi.

Perde-se demasiado tempo para o valor da aparelhagem, na maior parte não lê CDs, é verdade, então os porta 3 CDs rotativos, deram bastantes problemas no mecanismo.

Quando um leitor de CDs começa a falhar, é quase sempre o grupo-ótico ou o flat-cable partido; pode-se limpar a lente e o veio, se não resultar o mais que se pode fazer é aumentar um pouco a corrente do laser com a ajuda de um osciloscópio.

Como dizias, já não se fazem equipamentos para durar...
Bom trabalho 

[SerraCabo]

"Já me diziam, reparar aparelhagens não se tem lucro"

Pois não. É raro aquele que se possa dar ao luxo de pagar uma reparação deste tipo. Eu reparo porque é para mim e fico no bolso com o graveto que um novo custaria. Ainda por cima dá margem para debitar umas catilinárias polvilhadas por uma mão cheia de pragas.

O leitor de cassetes embora estupidamente complicado, pelo menos é desmontável, etc, e tem um bazalião de ajustes externos. Tinha boa pinta. O leitor de CD, que aliás ainda se engasga uns minutos depois de começara  tocar, está à beira de ir para o lixo. Tem mesmo pinta de coisa ranhosa. Tenho outro que nem sei a marca, que grava CDs. Amanhã vou ver o que poderá ele dar. Se estiver melhor passo a usar aquele.

Abraço.