A malta às vezes arrepia-se com estas coisas, mas vejamos:
Naquela altura os circuitos não eram muito densos e, no caso dos gravadores de bobina (e alguns de cassete) não havia SMDs. Só bastante mais tarde apareceram.
Nos gravadores de bobina mais antigos, os ICs estavam montados em sockets banhados a ouro e as fichas das placas tinham os pinos que encaixavam na placa-mãe banhados a ouro.
Aquilo era de qualidade e o preço a condizer.
Os PCBs já tinham cobre no furo e impresso dos dois lados, mas era relativamente fácil substituir componentes.
Para diagnosticar as placas, que ficavam enfiadas lado a lado, havia extensores. Removia-se a placa, colocava-se o extensor e engatava-se a placa no extensor. O extensor tinha circuito impresso para interligar a ficha da placa mãe à ficha da placa. Ligava-se a máquina (era assim que se lhes chamava) e diagnosticava-se. Havia manuais, vários canhanhos parecidas com listas telefónicas. Os manuais nada escondiam e tinham textos explicativos para cada circuito. Não eram exaustivom mas era bons. Havia diagramas de bloco para cada placa. É verdade que o circuito era extenso, mas o apoio era bom.
As placas tinham pontos de teste em pontos fulcrais (muitos) e bem assinalados. Os ajustes mais importantes estavam colocados de forma a poderem ser ajustados sem se retirar a placa (acesso frontal).
Havia uma 'ponte' de munição, com uma série de interruptores de pressão, ligada a um monitor de imagem, a uma espécie de osciloscópio e um monitor de vectores (XY) que permitia 'meter-o-bedelho' no que se estava a passar em diversos estágios do equipamento. Havia aceso instantâneo à curvas de correcção dos servos do cabrestante, scanner, memória, tracking, nível de RF na fita, etc.
Aquilo estava feito para facilitar a manutenção.
Agora, quando dava raia, às vezes dava direito a directas e obter componentes rapidamente era um problema. Acontecia, por exemplo que uma máquina não gravava bem, usava-mo-la apenas para reproduzir. Vice versa se não reproduzisse mas gravasse. Caso uma não fizesse slow motion, fazia-se noutra.
Curiosidade, a primeira máquina era capaz de reproduzir simultaneamente à gravação. Era sempre possível saber-se se a coisa estava a ficar efectivamente gravada. O VPR-80 não fazia isso, mas O VPR-2B e o VPR-6 fazia. As BCN com que trabalhei não faziam.
Aquelas máquinas Ampex (USA) eram um luxo não só de mecânica como de qualidade do circuito. As BCN ficariam (na minha opinião) um pouco atrás, mas eram máquinas valentes.
Não havia dinheiro para placas de reserva, a reparação fazia-se substituindo os componentes.
Os motores da VPR2B e VPR80 eram do pipo panqueca, com escovas. O rotor tinha cerca de 1mm de espessura. Faziam dos 0 aos 100 num fósforo. De vez em quando tinham que ser desmontados para remover o pó das escovas. Era uma tarefa delicada.


SC