Em relação a 50/75 Ohm, tenho umas histórias que posso partilhar. (lá vou eu falar pelos cotovelos).
A malta deve saber que trabalhei muito tempo no ramo do vídeo e, nele, (quase, quase) tudo é 75 Ohm, RG-59 ou muito parecido (alguns eram RG-59 mais uns sufixos por terem dupla malha, coisa bastante importante em vídeo analógico para atenuar os efeitos dos ground-loop).
O que remete para emissores e receptores (não falo dos emissores de dezenas de KW da distribuição porque disso quase nada sei) tende, regra geral, a ser de 50 Ohm mas, a verdade é que a malta do vídeo tendia a odiar cabos de 50. A razão é simples: ao mais pequeno descuido, se um cabo de 50 acaba ligado num circuito de 75 (típico do vídeo), temos o caldo entornado e às vezes não se dá logo por isso ou quem lá estiver não topa a razão de acontecerem coisas estranhas ao sinal.
No ramo do vídeo o caso mais comum em que se usava (quando eu estava nesse ramo) emissores e receptores, era o dos microfones sem fios. Acontecem então duas coisas interessantes. Os emissores tendem a ser compactos, sem cabo de interligação à antena, mas alguns fabricantes desse material optavam por fabricar receptores e antenas de 75 porque já sabiam do ódio que havia aos cabos de 50. A malta tendia a optar por esses fabricantes. Quando eram de 50 ohm, ainda havia duas opções:
1 – Tinham antena com amplificador à saída. Nesse caso esses amplificadores tinham “return loss’s” altos e a malta espetava-lhes com cabos de 75 porque o amplificador ‘matava’ as estacionárias.
2 – Não tinham amplificadores nas antenas e a malta aplicávamos-lhes adaptadores de perca mínima na saída da antena e na entrada do receptor e usávamos cabos de 75 Ohm. Havia percas extra, mas as distâncias em causa eram muito baixas, tão baixas que muitas vezes nem adaptadores levavam.
… de outra forma, usava-se cabo de 50 ohm e pintava-se as pontas de amarelo

. Mesmo assim havia sempre um cegueta que não via ao amarelo. Era um cabo e zás.
E agora em relação às fichas.

Em tempos eu trabalhava com material coaxial da Suhner, fabricante suíço de qualidade. Esse fabricante afirmava que, (não esquecer este pormenor no resto da conversa) salvo erro até 250MHz, do ponto de vista eléctrico, fichas BNC de 50 ou 75 era igual ao litro. O que não era igual ao litro eram alguns aspectos mecânicos.
Quer em 50 quer em 75, há uma ficha apropriada para cada ‘calibre’ de cabo mas, há cabos de diâmetro muito parecido entre os de 50 e os de 75. Nessa altura o engate da malha é compatível, mas não é compatível o contacto do pino. O pino de 50 recebe bem o condutor central de 75, mas não o contrário. O pino de 75 tem um furo demasiadamente fino para o típico condutor de 50 na mesma gama de cabo. Vai daí, eu usava umas broquitas salvo erro de 1mm para ‘resolver’ o problema.
Mas há outro problema. Quando uma ficha macho BNC é ligada a uma fêmea de 75, esta tende a ficar danificada porque o contacto não é suficientemente elástico para receber o pino de 50 sem o esbardalhar. Acontece que a Suhner sabia disso e garantia que por essa razão se podia usar uma noutra sem qualquer problema. Não era apenas a Suhner, havia outra, salvo erro chamada Greenpar que também resultava sem problema. Mas havia outras que eram um desastre.
Já agora, ainda por cima nesta época os cabos Ethernet eram coaxiais a 50 Ohm. Felizmente mexia-se pouco nesses cabos que, de qualquer forma, a bem ou a mal levavam tinta amarela.
Já agora, a Suhner fabricava cabo de cobre (os outros usavam uma mistura qualquer) e contactos banhados a ouro. Era caro, pois claro.
Abraço
SC